Blog criado como parte da disciplina "Ensino de Matemática para Pessoas com Deficiência", ministrada pelo Prof. Dr. João do Carmo

domingo, 17 de junho de 2012

Ansiedade à matemática

Ansiedade à Matemática: principais características e sintomas
A ansiedade à matemática vem sido investigada atualmente através de pesquisas acadêmicas que envolvem trabalho de campo, relatos de experiências, observações e levantamento bibliográfico. Entretanto, os autores que abordam tal temática afirmam que a busca por novas informações e novas propostas de intervenções ainda apresenta-se de maneira precarizada, uma vez que a ansiedade à matemática pode ser considerada um tema “novo”. Segundo Carmo, Cunha e Araújo (2007), a ansiedade à matemática pode ser 
caracterizada como um conjunto específico composto por algumas reações fisiológicas desagradáveis, cognitivas e comportamentais diante de qualquer ocorrência relacionada à matemática. Esses autores tratam das reações fisiológicas como taquicardia, sudorese, extremidades frias, sensação de torpor ou desmaio, cefaléias, gastralgias, insônia, pesadelos, etc. As reações cognitivas são citadas como confusão mental, sensação de descontrole do pensamento, presença muito freqüente de pensamentos de auto depreciação
e auto regras. Já as reações comportamentais caracterizam-se por fuga e esquiva, geralmente associados ao controle agressivo por parte dos alunos.

Carmo (2003) propõe que a ansiedade à matemática é um acontecimento que não tem origem genética, portanto está diretamente ligado às experiências que os alunos obtiveram no dia a dia de sala de aula, especificadamente nas aulas de matemática; o autor menciona ainda que não exista uma associação entre ansiedade à matemática e inteligência.

Sendo assim, torna-se pertinente o relato de Mendes (2012) :

“(...) a ansiedade à matemática está relacionada ao controle aversivo e
pode gerar no aluno diversas reações emocionais negativas, que podem
se traduzir em esquiva a qualquer tipo de contato com a disciplina. Nesse
sentido, um exemplo disso pode ocorrer com a simples presença do
professor de matemática podendo ‘paralisar’ o estudante, ou levá-lo a
esquivar-se, ou ainda fugir dessas situações.”

Técnicas de Auto Controle e Intervenções

É importante na intervenção da ansiedade a matemática elaborar técnicas adequadas de ensino, como programas de ensino individualizado, reestruturação do ambiente de estudo, reestruturação de hábitos de estudo e uso de monitores durante aula. Estas técnicas proporcionam ao aluno um ambiente mais saudável e ameniza os efeitos da ansiedade a matemática. Para complementar estas estratégias de intervenção é indicado ensinar ao aluno,técnicas de autocontrole com o objetivo de reduzir a ansiedade, como o relaxamento muscular progressivo e a dessensibilização sistemática. 

O relaxamento muscular progressivo é uma técnica que ensina a contrair e descontrair vários grupos de músculos em todo o corpo, prestando atenção às sensações que acompanham a tensão e o relaxamento e aprendendo a contrastar as sensações associadas a estes dois estados.O relaxamento muscular progressivo permite à pessoa reconhecer quando se encontra excessivamente tensa e instruir-se para relaxar, reduzindo, desta forma, também o nível de ansiedade. Esta técnica pode ajudar muito aos alunos com ansiedade a matemática, pois o seu objetivo final é o de conseguir fazer em qualquer local/momento da vida quotidiana, particularmente naqueles em que a pessoa sente-se mais tensa e ansiosa (antes de uma prova de matemática).

A Dessensibilização Sistemática é uma técnica que combina o treino de relaxamento com a exposição gradual a estímulos fóbicos. Para pessoas com ansiedade a matemática é uma maneira de aprender a diminuir a ansiedade e a tratá-la, neste tratamento o aluno precisa ter um acompanhamento psicológico além de utilizar as técnicas de relaxamento para que o resultado seja efetivo. A associação de técnicas de redução de ansiedade, reestruturação cognitiva e mudança de ambiente e hábitos de estudo mostrou-se
mais eficaz.

Práticas Pedagógicas e Implicações Teóricas

A matemática é fundamental para o desenvolvimento do conhecimento, entretanto muitos estudantes ainda apresentem aversividade a essa disciplina. Dessa forma, estudos comprovam que reações diversas são desenvolvidas na realização de tarefas matemáticas. Algumas dessas reações são geradas pelos métodos tradicionais de ensino utilizados pelos professores e/ou pelos pais que vivenciaram experiências similares. Além disso, não é de hoje que nossa cultura da ênfase na ideia de que a matemática se trata de algo muito
complexo. O ensino da matemática nas escolas precisa ser revisto e reformulado no que diz respeito às práticas pedagógicas, para que se possam extinguir métodos tradicionais de ensino, um dos causadores da ansiedade à matemática.

Segundo Fontes, Lima e Guerra (2009), o método de ensino inadequado e a falta de motivação podem vir a ser grandes obstáculos para o ensino e a aprendizagem da matemática.Ainda segundo esses autores, para selecionar estratégias de aprendizagem mais adequadas, além da natureza do conteúdo a ser desenvolvido, devem ser levadas em conta as características dos alunos. Os métodos de ensino deveriam motivar os estudantes, valorizar as diferenças individuais e, principalmente, levar em consideração as emoções negativas que provocam bloqueios na aprendizagem. Diniz (2003) afirma que a falta de ligação entre a matemática que se aprende na escola e os reais interesses dos alunos, que olham para a disciplina como tendo um nível de abstração exagerado e pouco com-preensível, só ao alcance de alguns iluminados, faz com que a vontade de aprender se vá perdendo, à medida que o nível de complexidade vai aumentando.

Para finalizar, é pertinente uma fala de Diniz (2003), onde este afirma que:


“Sendo certo que estamos perante uma situação complexa, talvez uma das
formas de a ultrapassar seja a de promover as interações entre professor
aluno no sentido de que este ganhe auto-confiança e sinta que tem algum
apoio no processo de aprendizagem”.






Referências:


BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Adaptações Curriculares. Secretaria de Educação Fundamental. Secretaria de Educação Especial. Brasília, 1998.
CARMO, J. S. (2003). Ansiedade matemática: conceituação e estratégias de intervenção. In: Brandão MZS (Org), Sobre comportamento e cognição: a história e os avanços, a seleção por conseqüências em ação. v. 11. (pp. 433-442). Santo André, SP: ESETec.
CARMO, J. S.; CUNHA, L.O.; ARAÚJO, P.V.S. (2007) Atribuições dadas à matemática por alunos do Ensino Fundamental com dificuldades em matemática: um estudo preliminar. Anais do V Encontro Paraense de Educação Matemática.
CARMO, J. S., Cunha, L. O. & Araújo, P. V. S. (2008). Analise comportamental da ansiedade à matemática: conceituação e estratégias de intervenção. In Silva WCMP (org.), Sobre comportamento e cognição: análise comportamental aplicada (pp. 185-195). Santo André, SP: ESETec.
CARMO, J. S., Figueiredo, R. M. E., Cunha, L. O., Araújo, P. V. S., & Ferranti, M. C. (2008). Diferentes intensidades de ansiedade relatadas por estudantes do Ensino Fundamental II, em situações típicas de estudo da matemática. In: Silva WCMP (Org.), Sobre Comportamento e Cognição: reflexões epistemológicas e conceituais; considerações metodológicas; relatos de pesquisa (pp. 213-221). Santo André, SP: ESETec.
DINIS, E. Pontos de vista, reações e idéias: A ansiedade na matemática. Educação e matemática, nº 72, 2003, p.26.
FASHEH, Munir. Matemática, Cultura e Poder. Berkeley, Califórnia, 1980.
FONTES, V. L.P.; LIMA, R.; GUERRA, de. Atitudes em relação à matemática em estudantes de administração. Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE), vol. 13, 2009, p. 133-141.
Meditation and Muscle Relaxation, S. Cormier & B. Cormier; Relaxation Training, Goldfried & Davidson; Instruções do Treino de Relaxamento Progressivo, Bernstein & Borkovec, traduzido e adaptado por Catarina Dias, Psicóloga do Gapsi. http://groups.ist.utl.pt/unidades/tutorado/files/Relaxamento.pdf. acessado em:27/06/2012
MENDES, A. C. Identificação de graus de ansiedade à matemática em estudantes do ensino fundamental e médio: contribuições à validação de uma escala de ansiedade à matemática. UFSCar; Dissertação de Mestrado. São Carlos, 2012.
SOARES, João Roldão. Dessensibilização Sistemática. Estagio Psicologia Social Dependendencias.
http://relatoriopsicologia.blogspot.com.br/2008/08/dessensibilizaosistemtica.html. acessado em: 27/06/2012.

Nenhum comentário:

Postar um comentário